domingo, 21 de fevereiro de 2010

GRITO URBANO



                   Foto: Norma Novais 

Escuto um grito perdido entre os prédios.
Grito feminino.
Grito prolongado.
Grito de dor.
Ele ecoa nos meus ouvidos.
Tenho sentimento de urgência.
Ele se vai como veio.
Como que bala perdida.
Ele se dilui no barulho da metrópole.
E fica preso nos embaraços da dor urbana.

BÊNÇÃO

                                                                  Foto: Internet

A mão que se ergue, que pede.
A outra mão que beija e que deseja algo.
Que algo de bom te aconteça.
Que teus projetos prosperem.
Que tua viagem seja boa.
Que tenhas um bom parto.
Que sejas aprovado no concurso.
Que um bom trabalho te espere.
Que superes esta perda do momento.
"Que Deus te abençõe"
"Que Deus te faça feliz"
"Que Deus te dê juízo"
para entender que a bênção é o desejo do bem.    

Obra O FILHO PRÓDIGO.  

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

EXPLOSÃO CÓSMICA

                                                                 Foto: Norma Novais

Da minha janela a explosão cósmica.
Beleza que pulsa no topo da vida urbana.
Ah se esta beleza tomasse conta de nós!
Virasse obra de arte de outras janelas.

PARTIR ALARANJADO

                                                              Foto: Norma Novais

Como elogiar o teu partir alaranjado?
Todo muito é pouco de palavras a declarar.
Apaixono-me por estes instantes fugazes.
Partiria contigo se não tivesse que te esperar amanhã.

FALATÓRIOS

                                                       Foto: Norma Novais

Fala o verde do sopé da serra.
Fala o bambuzal sugando água do riacho logo abaixo.
Fala a roça de babaneira fincada no declive.
Fala o vento forasteiro trazendo movimentos.
Fala Serra de Baturité.

VIDA APIMENTADA

                                                            Foto: Norma Novais

No cotidiano arde a alma.
Explosões de desafios,
desconstruções,
medos,
perdas,
desamores...
Arde a boca,
arde o peito,
arde o respirar.
Meio a vida apimentada,
o atrevimento:
a superação
das dores do vivido.

Foto em Pacoti -CE.

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

ESPLENDOR DO ESCURECER URBANO

                                                              Foto: Norma Novais

Menina, caminha ligeiro.
Desfruta do por do sol por trás dos edifícios.
Ele tem pressa na viagem.
Desce formoso no horizonte,
alaranjado,
como se fosse repousar.
As nuvens fazem o louvor ao redor.
Coberturas de beleza.
Ele vai se enfiando atrás daquele prédio.
Escondendo-se do dia.
Deixando brotar o esplendor do escurecer.

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

CÉU DE FEVEREIRO

                                                          Foto: Norma Novais

Um espetáculo acima de mim.
O infinito abre uma cratera de luz.
As nuvens como que clara de ovos
soltam reflexos de beleza.
O grande rei se despede com formosura.
Meus olhos percebem a gratuidade deste espetáculo.
Quantos fortalenzeses estariam distraídos deste olhar?

ÁGUAS DO IGUAÇU

                                                                 Foto: Internet

Anseio pela energia criadora.
Fluxo criador.
Quero a união das águas das cabeceiras
e dos afluentes deste rio.
Quero que os peixes saltem.
Que as aves façam o seu mergulho,
exaltando a fecundidade.
Quero o assoviar do pássaro atrevido.
E escorregar na margem molhada do rio.
Quero subir a trilha estreita,
olhando os bonitos abismos das quedas d'água.
E me enfeitiçar por este espetáculo de águas soltas.
Guardadas por um espírito sábio e amoroso.
Espírito que jorra vida abaixo.

Foz de Iguaçu. A paisagem mais linda que já vi.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

AS ESPECIARIAS E OS TEMPEROS DO AMOR

                                                                    Foto: Internet

Ó meu amor!
Eu quero te sentir no arrepio deste vento louco.
Deste sopro cigano e viajante.
Que toca minha alma na transitoriedade do vendaval do tempo.

Eu quero te sentir na correnteza deste rio.
que contorna as margens e escorrega serra abaixo.
Que toca minha alma na flexibilidade do meu viver.

Eu quero te sentir no canto deste pássaro do sertão.
Que canta meio aos gravetos secos e estorricados pelo sol.
Que toca minha alma na escassez dos sentimentos.

Eu quero te sentir na latência desta semente ainda não plantada.
Que espera o seu tempo para revelar-se.
Que toca minha alma na potencialidade de tudo que podemos.

Eu quero te sentir nas pequenas ondas que beijam a praia.
No movimento do arrastar-se na fronteira mar e terra.
Que toca minha alma com a humildade dos sábios e dos pequeninos.

Eu quero te sentir na música que mais aprecio.
No chorinho, na cantiga de ninar, na poesia cantada, no sussuro relaxante.
Que toca minha alma no romantismo do encontro.

Eu quero te sentir numa caravana de esperançosos.
Caminhanho para encontrar as preciosidades do bem-viver, do bem-querer.
Os mapas secretos, os atalhos, os segredos milinares, as inscrições nas rochas,
as especiarias, os temperos do amor.

Do amor que no seu existir sinta na alma:
a transitoriedade da vida,
a flexibilidade do viver,
a superação da aridez no coração,
a potencialidade,
a humildade,
o romatismo do encontro,
para que ele, O AMOR, sabiamente exista.

sábado, 6 de fevereiro de 2010

O TAPETE MÁGICO

                                                                 Foto: Internet

O sentar-se no tapete mágico.
Suba! E ele começa a tremer,
eleva-se do solo e de repente Zum!
Se locomover para os diversos reinos.
Uma viagem guiada pela magia.
Vai a um lugar em busca de um perfume inédito.
Uma essência rara localizada no miolo de uma maçã verde.
Voa para o templo da transparência que existe ao ar livre.
Próximo ao local ele deve escutar o cântico de um pássaro
que não repete nenhuma nota musical.
Ele se chama pássaro do dia.
No caminho enxerga pontes, mares, rochas escuras e dunas.
Ele contempla lindas cachoeiras, rosas e espinhos.
Ele conversa com o passageiro arco-íris.
E se amedronta com o zangado trovão.
Ele toca as gotas de orvalho.
E se cobre com a luz do luar.
Acaricia as nuvens apressadas.
Descansa num bosque de romãs.
Delicia-se com as frutas vermelhas e saborosas.
Bebe água do suor do sol.
E prossegue no seu vôo sensorial.
No breve e encantado vôo da vida.

DITAMES DO NÃO

                                                                        Foto: Internet

Vivemos meio a tanto não.
Assim não, não pegue aí,
não faça isso.
Você não estudou. Não é verdade.
São tantos jeitos de negar.
Se a mãozinha machuca na porta:
"não doeu não".
Se cai, machuca a perna e dói:
"não foi nada".
A avó indaga o porquê da face de choro:
"Não aconteceu nada".
Se há uma perda:
"não chore não".
O não em demasia nos faz menos humanos:
no sentir e no viver.

BEM-QUERER

                                                             Foto: Norma Novais

Um querer sem bem-querer, não quero.
Perdido amor.
Um querer com mal-querer, não quero.
Perdido desamor.
Um querer bem-viver, quero
você.

Guaramiranga - CE.

QUATRO ESTÁGIOS DA NATUREZA

                                                          Foto: Norma Novais

A palmeira se mostra exuberante.
Fico impactada por sua beleza.
Ela se mostra ao mesmo tempo com quatro estágios de vida.
O cacho mais próximo do chão de onde veio,
ramos pálidos, frágeis, recém-nascidos.
Mais acima um cacho adolescente de um verde viçoso,
desajeitado, em transformação.
No centro da palmeira um cacho adulto,
com densa ramagem de um verde por igual, exuberante e forte.
E por último, mais acima, próximo do céu,
demonstrando maturidade, um cacho de tamanho grande,
de um verde mais acinzentado, com ramos um pouco em desalinho.
A natureza produz espetáculo.
Abriga ao mesmo tempo quatro estágios de vida.
Tudo sabiamente no seu devido tempo.

sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

PASSEIO SERRANO

                                                              Foto: Norma Novais

Eu quero seguir a pé por uma estrada estreita
com terra nos meus pés.
Deixar que os capins ainda molhados pelo orvalho
toquem as minhas pernas.
Que os pássaros vejam a minha passagem
se equilibrando nos fios das cercas de arame farpado.
Que as frutas maduras ainda atreladas à árvore mãe
exalem o seu cheiro de existência.
Que o céu ainda não se defina se vai ou não chover.
Que eu pare ao longo do caminho contemplando
o raro florescer do ipê na mata.
Que eu perceba o cacho de banana prata na babaneira
quase tocando o chão.
Que os meus pés sejam acariciado pelas águas correntes do riacho.
Que eu não tenha pressa alguma para tocar naturalmente a vida.
Que a natureza me acolha na sua simplicidade de ser e de estar comigo.
Que ela me reconheça filha das suas entranhas.
E que eu a ame para além deste passeio.

Porteiras -CE

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

TRAVESSIA DO TEMPO

                                                          Foto: Wellington Monteiro

Deslizar as mãos numa viagem de afeto
como quem opera a argila,
num ato de quem vive e deixa viver.
Ouvir o sutil cântico do pássaro ao longe
como um vivente deste campo.
Enraizar os pés no chão,
numa conexão de equilíbri universal.
Se surpreender com o outro,
no contexto do novo e do inesperado.
Gerar heterogeneidade.
Perceber a impermanência.
E irrigar os olhos,
num ato de compaixão.

Boston - Estados Unidos

INDAGAÇÕES AO VENTO

                                                 Foto: Wellington Monteiro

O que eu perguntaria a este vento louco que assanha os meus cabelos?
Seria um visitante que apenas me refresca?
Teria ele nesta manhã de sol sobrevoado as baixas águas do Atlântico?
Que segredos ele traz no seu sopro que se alterna forte e fraco?
O que ele testemunhou nas ruas, nas esquinas, nas praças, nas praias,
nos parques de diversões, nos jardins, nas casas, nos apartamentos?
Que palavras de sussuros ele ouviu dos amantes?
Que lições de cidadania ele aprendeu?
O que ele percebeu que precisa ser desconstruído?
Que lições de liberdade estão embutidas nas suas correntes de ar?
Que reflexões ele traz das montanhas?
Que gritos ele transporta?
Em quantos locais ele chegou tirando a poeira?
Quantos poetas ele inspirou a lhe fazer indagações?

Local Baturité -CE.

O ANOITECER



Foto: Norma Novais 

Quero acolher as mensagens do entardecer.
O sol aos pouco se recolhe
com um embutida promessa de voltar.
As luzes dos prédios se acendem.
As pessoas se inquietam no seu retorno da vida profissional.
A lua reina sozinha no céu límpido.
No alto do prédio a cidade parece menos barulhenta.
As torres das televisões se exibem com sua luminosidade pontiaguda.
Muitas coisas se escondem no império do escuro.
A noite promete tantos encontros quanto desencontros.
Amores perdidos, amores achados.
Amores fugidíos, amores aromáticos.
Ela, á noite, terá o charme do se mostrar, da sensualidade?
Terá o charme do esconder? Da penumbra? Da meia luz?
Ela é artificialmente bela no seu campo de luz.
E é naturalmente bela no seu escurecer.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

UMA FÃ DO PEQUENO MENINO

                                                            Foto: Norma Novais

Sou fã deste menino que se espera para nascer.
São luzes, anjos, manjedouras, trombetas, estrela.
São pastores, animais, reis magos, profetas.
São perfumes, incensos e mirra.
São sentimentos que brotam no coração do mundo.
São alimentos que se compartilham ao redor da mesa.
São famílias que se reúnem.
São reflexões que se fazem.
E avaliações que nos visitam.
São propósitos que se renovam.
São sonhos que se lançam.
São mensagens que se trocam.
São graças que se agradecem.
Sou fã deste menino que se espera para nascer.
Do seu projeto de amor maior.
Da gigante proposta de "amar ao outro como a ti mesmo".
Da sua lição de humildade mesmo sendo divino.
Sou fã deste menino que se espera para nascer.
Que alimenta minha fé ao nível do sentir.
Que me desperta para que eu me reconheça como filha amada de Deus.
Sou fã desta família que acolhe este menino sem ter canto para nascer.
Que se arrisca dizendo um sim grandioso.
Que migra para bem longe diante das perseguições.
E neste clima de nascimento,de renovação,
sou uma fã sonhadora.
Que acredita na força da nossa amizade mesmo distante.
Que acredita no ser humano mesmo frágil.
Que deseja um mundo melhor mesmo impiedoso.
Que reune as forças para viver no presente.
Que enxerga o natal distante do poder de troca.
Que tem o Papel Noel como uma boa e eterna brincadeira.  
Que tem a poesia como arte do viver e do dizer.
Que tem a família como jóia rara.
Que acredita na força da oração.
Que deseja expandir correntes do bem.
Sou uma fã sonhadora,
que quer na nossa bagagem espiritual
 e no dia-a-dia a atualização da esperança.

PEQUENAS COISAS

                                                                   Foto: Valdete

Que reine a sabedoria no dia de hoje.
Que as coisas simples e naturais sejam vistas.
Que eu perceba a praia beijando o mar.
Que eu escreva uma pequena mensagem a um amigo.
Qu eu recorte figuras de velhas revistas.
Que eu forme quebra-cabeças.
Que eu adore um passeio de bicicleta.
Que eu tire uma flor daquele jardim bonito.
Que eu aprecie fotografias da infância.
Que eu saiba rir de uma paixão que se foi.
Que eu escute o Chico, o Caetano e a Betânia.
Que eu dance ao som do Alceu.
Que eu fça uma tapioca de coco.
Que eu não rumine aquele desprazer.
Que eu converse com as palmeiras do jardim.
Que eu tenha uma escuta atenta.
Que eu me sensibilize com o outro.
E que eu passe adiante a esperança.