domingo, 22 de novembro de 2009

FEITICEIRA

                                                       Foto: Norma Novais

O encrespado lilás mexe no miolo da minha alma.
Empresta-me o belo para celebrar a vida.
Desfila meio ao verde das folhagens,
provocando contrastes.
Surpreende-se com o meu olhar apaixonado:
fixo,
exultante,
extasiado
por uma feiticeira Sempre Viva.

sábado, 21 de novembro de 2009

PRESENÇA DO CRIADOR

                                                               Foto: Internet
Senti o primeiro perfume do ano.
Algo selvagem exalava do mato ao redor da cachoeira,
à medida que a água trepidava as folhas, sem soltá-las.
E na pedra, tendo como manto um lodo verde,
uma pequena e lilás flor silvestre,
numa beleza sem limites.
No sensorial a intuição simbólica da plenitude espiritual:
Deus ali.

"BEIJA-FLOR SOU TUA ROSA..."

                                                               Foto: Norma Novais
Olharei para ti sem plano algum,
numa distração do ao redor.
Verei tua roupa delicada,
de um vermelho acetinado.
A tua beleza é vida,
afastada de lisonjeio.
Entrelaças as pétalas
numa arrumada cumplicidade.
Encontra-se aí em teu jardim,
como por natural encanto.
Aberta aos beijos das borboletas bailarinas,
aos toques dos ligeiros beija-flores.
Sei que vives perfeitamente
o teu agora de beleza.

sexta-feira, 20 de novembro de 2009

VIDA NA PRAÇA

                                                          Foto: Wellington Monteiro
O cair da tarde possibilita os encontros.
Um a um vai chegando sem olhar o relógio.
O pipoqueiro se posiciona no melhor ângulo de venda.
A menina com roupa rosa desliza em seus patins.
Uma jovem linda desfila com suas três cadelas branquinhas.
Dois idosos caminham guiados nos passos das conversas.
A banca de revista acolhe os visitantes: o jornal, a revista, o chocolate, o picolé...
Em alguns bancos os bate-papos os ocupam.
Uma jovem senhora faz sua caminhada energética circulante.
Onde estarão os casais de namorados?
Um pai ensaia caminhada com o filhinho pequeno.
Três garotas tiram fotos junto dos pequenos coqueiros na grama.
Dois garotos batem bola em um pequeno espaço a parte.
No cento da praça os espetáculos de corridas de carrinhos.
Controles remotos fazem os seus giros de espetáculos,
incendiando os garotos que correm até a pequena rampa de madeira.
Os sons dos motores dão tonicidade à brincadeira.
A praça como espaço de todos.
Movimentos de existência ao cair da tarde.
Para levantar a vida.

Publicada no Jornal O Povo em 15/11/2008, na página Jornal do Leitor.
Local da foto - Praça de Artesanato Luiza Távora em Fortaleza - CE

LIÇÕES DO MAR



                                                           Foto: Internet
A onda vem e beija a praia.
Um ato ir-repetível.
Muda o volume da água,o trajeto da onda.
Muda a força, sua intensidade.
Mudam as algas.
Mudam os elementos que vão e vêm.
Muda o mar.
A dança de sabedoria da natureza:
a onda se renova a cada momento.
Escuto o seu movimento de vai e vem.
É preciso ir e vir.
Respirar feito o mar.
Inspirar ao recolher a água.
E expirar ao soltá-la na areia.
Oxigenando a vida.

Poema publicado no Jornal O Povo, página Jornal do Leitor
em 05/09/2009 (não a foto).

MULHER DIZENDO-SE

                                                                   Foto: Internet
Eu mulher sou um pouco de raio de sol.
Eu sou perfume que apaixona.
Eu mulher sou coragem.
Eu sou silêncio e sedução.
Eu mulher sou sonhadora.
Eu sou espuma do mar que se joga na areia.
Eu mulher sou cidadã.
Eu sou mãe que beija meus filhos.
Eu mulher sou amante da lua cheia.
Eu sou um ser carente de amor.
Eu mulher sou segredo.
Eu sou uma obra de arte pintada por um grande artista.
Eu mulher sou indignação.
Eu sou uma artesã de um mundo melhor.
Eu mulher sou sussurros ao cair da noite.
Eu sou orvalho de uma manhã de sol.
Eu mulher sou amante das notas musicais.
Eu sou flor de laranjeira.
Eu mulher sou canção de ninar.
Eu sou quem abre trilhas em caminhos intransponíveis.
Eu mulher sou abraço.
Eu sou muitas vezes solidão.
Eu mulher sou encontro.
Eu sou o brilho dos olhos do meu amado.
Eu mulher sou desafio profissional.
Eu sou de carne e osso, amor e paixão.
Eu mulher sou palavra que murmura.
Eu sou o doce som das cachoeiras.
Eu mulher sou fazedora de história.
Eu sou inverno, verão, outono e primavera.
Eu mulher sou pulsação.
Eu sou vida

Poema publicado no Jornal O Povo, página Jornal do Leitor em 07/03/09 (exceto a foto).

terça-feira, 17 de novembro de 2009

INTERRUPÇÃO


                                                    Foto: Internet
No desabrochar da rosa,
o galho cortado.
A beleza se precipita ao chão.
Cai o perfume, o veludo das pétalas.
Cai o mostrar-se bela.
Cai a possibilidade dos raios de sol,
pousarem ali,
diante dos meus olhos.

Poema Publicado no Jornal O Povo, página Jornal do Leitor
em 14/11/09 (sem a foto aqui exposta).

sábado, 7 de novembro de 2009

EU SOU GENTE

                                       Foto: Por do sol porteirense presenteada por Anaí Tavares

Não quero me misturar ao lixo de modo indiferenciado.
Sou gente que come, que chora, que brinca, que cata.
Pobre de carne e osso.
Que sonha, que se deita na cama com o corpo que dói.
Que beija o filho.
Que enxerga a pobreza dos ricos.
Que separa o lixo de modo ecologicamente correto.
Que corre ao encontro do caminhão público na rampa.
Política do resto, do descarte, do fedor.
Sou gente que deita com meu homem mesmo faminta.
Que coloca em dia a força das entranhas, no gozo.
A mesma entranha que pariu os meus pequenos.
Sou gente que detesta pesquisa sem ação.
Que luta por algo que nos tire do atoleiro da fome.
Sou gente de favela, mas também sou do universo.
Deste imenso território mal distribuído.
Sou gente quase sem domicílio.
Sou gente, sou mulher, próxima de muitos não...
Não isso, não aquilo, não aquilo lá.
Construtora de um sim, muito lento.
Eu sou gente. Apareço nos dados do IBGE.
Eu sou Maria, sou Joana, sou Raimundinha... sou eleitora.
Eu sou catadora de lixo, sou recicladora.
Sou líder comunitária.
Eu sinto o mau cheiro de tudo.
Daquilo que se deixou de fazer pelo faminto.
Inclusive daquilo que desce pelo ralo.

AÇÕES POÉTICAS

                                           Foto presenteada por Anaí Tavares - Porteiras-CE
Que a poesia invada as nossas vidas
de tal forma que cada um se mostre como é.
Que excite o nosso brincar, os nossos devaneios.
Quem não precisa de uma boa loucura para se perceber desacertado?
Que ela provoque os nossos talentos escondidos
e nos force a ir para as ruas.
Que a poesia possa ser declamada por um rosto cheio de rugas
que enxergue a sua vida no presente.
Que a poesia critique os desatinos da política
e nos mate de vergonha pelo espírito de não-cidadania.
Que os poetas se inspirem nos valores bons que perdemos
e reacenda a memória de nossa quase morta humanidade.
Que a poesia contrarie os padrões da moda e
de corpos esculturais quase mumificados pela alienação.
Que a poesia se apaixone pela natureza e
a defenda com se fosse uma teimosa ONG de zelo pela vida.
Que a poesia seja uma via enxergada pelos docentes
para se falar e questionar a realidade.
Que a poesia se grude à melodia da música
e contamine os corpos dos amantes,
fazendo-os acreditar na força do amor.
Que a poesia extinga o tempo de morrer
dos desesperançados e traga um colorido de alento.
Que a poesia fale comigo
nos horários mais inconvenientes,
quando a arte se faz ação por si mesma.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

APELOS A PAZ


                                                               Foto: Internet
Vestida de branco,
amiga do bem-viver,
fala do respeito coletivo.
Acena com teu lenço branco,
com tua pombinha-correio.
Entrega um galhinho verde aos desesperançados.
Visita cada família, cada favela.
Habita no sorriso das crianças.
Coloca uma bandeirinha onde exacerbam as diferenças.
Sobrevoa este planeta.
E sem desistir, dissemina a solidariedade.
Desperta os insensíveis.
Acorda os descomprometidos.
Invade os corações dos que só acumulam .
E pincela de branco o nosso negro espírito de cidadania.

SONHO CIGANO


                                                                  Foto: Internet
Um sonho se precipita entre os lençóis.
Um sonho colorido.
Uma cigana, uma viajante sem porto seguro.
Desprendida das coisas do mundo.
A alegria transborda dos seus lenços coloridos.
Passos graciosos.
Uma aparente falta de companhia.
Gestos que se multiplicam na espontaneidade daquele ser.
Tambores ao longe.
Uma escuta atenta.
Um sorriso nos lábios rubros.
Uma dança de borboleta.
Os pés descalços acariciam a terra mãe.
Vida viajante.
Um sonho cigano.
E uma cigana enquanto sonha.

CHEIRO TEU

                                                                  Foto: Norma Novais
Quero estar embebida pela tua presença.
Pelo cheiro de um perfume agradável que tem o cheiro teu.
Passear pela primavera como única estação possível.
Aromatizar o nosso amor com uma doce essência.
Passear pelo parque de mãos dadas,
contemplando os cachos amarelos de acácia.
Sentar na grama orvalhada.
E compartilhar o cheiro de terra molhada.
Entregar meus braços a uma paixão desmedida.
E neste cheiro primaveril,
ser escandalosamente tua.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

MINI BUGARIS

                                                           Foto: Internet
Os mini-bugaris florescem de branco.
Soltando um doce perfume com o passar do vento.
Eu me abaixo perto deles.
Na terra percebo também flores recém caídas.
Isso me torna consciente da não eternidade do tempo.
Eu também tenho a minha floração.
E meus perfumes soprados pela existência.
Por um tempo indefinido estarei no galho.
Percebo a minha presença no mundo.
Recebo do presente à santa seiva.

Poema Publicado no Jornal O Povo em 22/11/08,
na página Jornal do Leitor (sem esta foto).

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

MARGARIDA

                                                                  Foto: Norma Novais
Exuberante beleza.
Uma flor chamada margarida,
aparentemente solitária em seu jardim.
O amor estético se manifesta em seu miolo.
O branco se espicha em suas pétalas
em conexões alinhadas e amorosas.
“Espelho, espelho meu, haverá alguém mais bonito
do que eu?”
Quem sabe exista um ser feminino encantador.
Margarida chamada mulher.

domingo, 1 de novembro de 2009

A PROVOCANTE FLOR AMARELA

                                                               Foto: Norma Novais 
A delicada flor amarela me traz você.
Pois é assim, a vida faz viagens inesperadas.
Ninguém impede o fluxo do pensamento,
nem o refluxo das lembranças.
Nem a rosa amarela nunca será feia.
Ela será sempre perfume da alma.
Da minha alma que olha para ela,
que a sente,
que cheira,
a provocante flor amarela.

FORÇAS LÍRICAS





 
Foto: Anaí Tavares
(Coroação de N. Senhora em Porteiras-CE, mês maio)

Quero me entregar às forças líricas do mundo e do existir.
Ler algo que me transporte à idas aparentemente impossíveis.
Sonhar com arco-íris em pleno deserto sem oásis.
Tonificar a fé meio a tanto niilismo.
Quero que os sorrisos inocentes fluam no coração do mundo.
E que a solidariedade não seja uma jóia rara.
Que haja festa sem motivo algum.
Quero respingos d’água da cachoeira mesmo distante.
E um amigo que me escute sem que eu fale.
Quero ouvir o som inaudível do bailar das borboletas.
E tornar o abraço humano de “uso obrigatório”.
Quero escandalosamente ser chamada de sonhadora.
Quero ser criança de minha alma.
Ou transformar minha alma em criança.
Com a grande ou a pequena força do agora.

RECORTES DE DOR


Nada mais comum do que uma segunda feira aparentemente qualquer.
E apressados transeuntes na rua.
Guardando as suas dores no bolso, no pisar dos sapatos.
Ou sacudindo as velhas e as novas dores do vivido.
A dor do amor perdido.
A dor do amor infiel.
A dor da desesperança.
Da saudade quase crônica.
A dor da rotina.
A dor do outro que é também minha: da violência.
A dor de muitos: da não cidadania.
A dor das dívidas financeiras e espirituais.
A dor dos desencontros.
Das perdas.
A dor do abandono ...
E a dor de não ter ilusão.