segunda-feira, 28 de maio de 2012

"MÃE DA LUA"

                                                           Foto postada por Ictoon
Quando menina, muitas vezes, nas calçadas
da minha casa na serra do Araripe, entre o engenho de rapadura
e a nossa morada, nas noites de lua cheia, ouvíamos
o cântico da "Mãe da Lua".
Ela sentava nas palmeiras, nos coqueiros ou na
copa de grandes árvores no cafezal próximo.
Todas as crianças se espalhavam de medo.
Dizia-se ser um pássaro fantasma que ninguém via,
mas ouvia muito bem seu cantar esquisito.
Falavam os mais velhos que ela cantava lamentando a
traição do amado, assim: "foi, foi e não voltou mais".
Pensávamos que a sua presença anunciava a nossa morte
ou de alguém querido.
"Diabo era quem quisesse ficar perto".
Diziam que camuflada, disfarçada, ela cantava olhando para a lua,
por isso que não aparecia em noites escuras.
Ficava facilmente imóvel em tronco de árvore, disfarçada.
Era feia, tinha um "bocão"e olhos de coruja.
Eu tinha medo que ela levasse meu pai ou minha mãe,
com seu anuncio de morte.
Meu pai me dizia que fazia muitos anos que ela ali cantava
e nada acontecera.
Dizia que daqui a pouco ela iria embora para outro lugar
caçar insetos.
Eu já adulta ouvi o cantar da "Mãe da Lua", uma experiência
que eu queria ter e meu pai me chamou no terreiro.
De modo mais discreto eu a senti como fantasma.
Segurei o braço do meu pai e chamei para entrar em nossa casa.
Ela até que poderia ser para nós "Mãe da Lua".
Mas a tradição nos passou como "Mãe da Morte",
menos cruel que a Rasga-Mortalha, que completava
as estórias de anunciação da morte em nosso meio.
Um Cariri cheio de coisas para contar e até para ter medo.

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