sábado, 7 de janeiro de 2012

E A LUA SE ESCONDEU

Foto: Wellington Monteiro

Um dia a lua ficou enjoada de tanto passear no céu, disse ao seu redor cochichando que não iria circular naquela noite escura.
Resolveu ficar quietinha, certa que ninguém iria sentir falta dela.
Um jangadeiro chama o seu filho no pequeno barco em pleno mar e diz: filho, a lua hoje foi se embelezar demais e se atrasou, assim, os peixes que gostam de se exibir com os raios do luar ficam lá no fundo quietinhos. O barquinho tinha bússola, mas ficou perdido e triste sem o dourado de cima das águas. 
Um casal de namorados tinha combinado com mais seis outros casais amigos que iriam a pé de um sítio para o outro, com violão em punho, cantariam "coisas de amor", atravessando os riachos com a luz do luar os guiando. Então, ficaram na casa de onde partiriam, a olhar para o céu e na falta do luar fizeram uma grande fogueira, mas na falta daquela luz do alto alteraram suas vozes, seus jeitos de dançarem e de se beijarem. Eles imaginaram: a lua estaria em greve ou teria esquecido que era dia dos namorados?
O pintor arrumou cedo seus pincéis, escolheu as tintas e os seus acessórios e já ao final da tarde
caminhava pela praia com as ondas do mar chutando os seus pés, os deixando salgados. Ao chegar
à costumeira barraca de praia , onde tantas vezes pintou o perfil de sua amada enrolando-se na luz do luar, se entristeceu. As suas telas revelavam uma negritude onde o romantismo não se mostrou, onde a silhueta da sua encantadora musa era puro luto. O pintor ficou a pensar se a lua teria sentido ciúmes de nos últimos dias ter buscado pôr de sol e manhãs de chuva para fazer sua arte fotográfica.
As estrelas que circulam no céu olhando para as diferentes fases da lua, pensaram que ela teria lançado um novo jeito de se mostrar, brincando de esconde-esconde, quem sabe. Assim, voltaria mais bela e mais desejada.
E na experiência do esconder-se por uma noite, a lua percebeu que as cidades grandes tinham tecnologia de ponta para produzirem seus brilhos de todas as cores e as mostravam em elevados espigões, as estradas tinham postes incandescentes em cada margem das pistas, os carros transitavam  com seus variados e sofisticados modelos de lanternas dianteiras e  traseiras, muitos dos rios eram iluminados através das suas pontes antigas ou modernas, as televisões transmitiam tanta luz, animação e cores em telas planas de última geração, as pessoas já tinham desprezado o romantismo de embriagar o olhar a dois no brilho da lua refletido no mar, no rio, na cachoeira, na janela, na jardineira, na silhueta da pessoa amada.
Fiquei a pensar com um coração de menina para ajudar a lua a enxergar sua ampla função de ser satélite da Terra, para que ela voltasse. Pensei, que com certeza tudo que fosse simples e pequenino teria sentido falta da lua naquela noite de sumiço.
Eu amo a lua e pensei, e agora? Pensei na lua cheia, quando o céu nos para em suspiros e dizemos: Que linda meu Deus! Que linda! E achei uma grande resposta convincente para defesa: lua, não podemos viver sem a sua beleza. A vida no nosso planeta precisa de seus sussurros.      

Artigo publicado no Jornal O POVO, Jornal do Leitor, página 3, em 7 de janeiro de 2012.

Um comentário: