quarta-feira, 22 de fevereiro de 2012

APAIXONAMENTO CARNAVALESCO


Oh feiticeira que me apareceu de súbito!
Naquele baile de carnaval que cogitei não ir.
No salão ela rodou a saia estampada,
acompanhada de um sorriso largo, lindo e belo.
Sorria como criança com algodão doce na mão.
Cantava uma marchinha, dominando a letra o os quadris.
Na cabeça umas trancinhas que se misturavam a tecidos estampados
se entrelaçando aos fios loiros.
Seria alguma sereia que havia saído dos verdes mares?
Não, era gente de verdade, e, ainda cheirosa.
Usava uma blusa branca com colagem de rendas cearenses.
Eu, estático, endeusado, atônito, sem fôlego.
Corri atrás da feiticeira que se deslocava rápido a sua longa mesa.
A angústia de perdê-la de vista era de morrer.
A vi novamente bebendo água mineral e falando com amigas.
Fiquei por trás de uma coluna a fitá-la.
Eu era um apaixonado desconhecido e com arrepios de gente boba.
Será se ela teria me visto? Acho-me bonito e estou elegante,
numa discreta vestimenta branca com amarelo, roupa emprestada.
No impulso do amor a covardia fica de fora.
Mas o cearense diz que não se pode ser “enxerido” demais.
Passei em frente aquele encanto de gente e joguei meu sorriso
pedindo licença para passar.
Algo nos olhos dela tremeu, face ruborizada.
Passei reto como se faz algo mal feito e não se olha o resultado.
Ela já havia pedido as amigas para procurar o camarada com cor de margarida.
Ela diz: ele acaba de passar, será da composição dos artistas? Vocês não o viram?
Achei por bem arranjar emprestado um chapéu preto tipo cartola de um amigo presente.
Ela passou e eu tirei uma das tiras coloridas de uma trança.
A feiticeira passou reto como se faz algo mal feito e não se olha o resultado.
Ela se foi, eu tenho que conquistá-la, senão o sino dá doze badaladas.
Senão as marchinhas se acabam.
Seria bom eu vomitar? Ou cair nas serpentinas sem querer?
Que covardia de um carnavalesco apaixonado, pensei eu.
Fui ao centro do salão lotado, apertei a cintura dela e larguei um beijo na boca.
Depois de ficar com fôlego eu a perguntei: como é seu nome minha linda?
Ela respondeu: sou Margarida, a sua feiticeira Margarida.

Publicado no Jornal O Povo em 18/02/2012

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